sexta-feira, 6 de abril de 2007

Sabores



Podiam inventar um perfume com cheiro de gelatina. Tudo bem, gelatina tem cheiros diferentes, mas todas elas têm um cheirinho em comum. Tudo bem... gelatina sabor framboesa! E, se possível, que arranjem daquelas antigas, guardadas no armário da vovó, pois é daquela gelatina ainda morna que eu sinto o cheiro agora. Ele vem em ondas suaves, cativantes. Anuncia bons momentos. Seria reconfortante poder ter uma caixinha ou um baú cheio dessas pequenas coisas que nos fazem tão bem. Daí era só abrir o cadeado (sim, pois são emoções valiosas) e sentir cada pequena parte de sua vida de volta. Para facilitar, a caixinha teria vários compartimentos. Assim não precisaríamos pegar no lenço cheio de lágrimas para alcançarmos a gelatina ou a fotografia daquele domingo na cachoeira. Um cantinho para carrinhos velhos e sem rodinhas ou para aquela boneca preferida. A lado poderíamos colocar o suco de goiaba ou o bolo de cenoura. Depois de uma brincadeira o melhor mesmo é encontrar outra, e quando a gente é criança até mesmo o lanche vira brinquedo. Em seguida colocaríamos as coleções de figurinhas e mais umas tranqueiras de infância. Depois, faixas de todos os machucados...melhor não, encheria demais a caixinha. Coloquemos só do primeiro dia em que você caiu da árvore ou da bicicleta. Juntaríamos os ingressos de jogos de futebol e cinema. Diários de adolescência também. Foto do primeiro amor, ainda inocente. Depois do segundo e terceiro amores. Cartas apaixonadas e outras angustiantes. Umas tantas lágrimas, pois ninguém é de ferro ou barro. Uns papéis de cola, daquele dia em que você descobriu que o mundo não vai cair na sua cabeça toda vez que fizer algo errado. Primeiras vitórias, mas não se esqueça de algumas derrotas também. Amigos de colégio e faculdade, festas, comemorações. Ah, não se esqueça de muitas risadas. Coloque muitas dessas. Se possível, coloque uma ao lado de cada coisa. A alegria é importante, inclusive na sua própria ausência.
Talvez você precise de mais uma ou duas caixinhas. Melhor mesmo se precisar de várias. Cada qual com seus anos de vida, com tantas vidas, finais e recomeços. Pena que no sacolejo da estrada tudo misture e a desordem tome conta de nossas emoções. Depois do lanche vem a saudade. Depois da brincadeira, a dor. O lenço das lágrimas já esbarrou em tudo, até nas gargalhadas. Melhor que sejam lágrimas de alegria mesmo. E depois da gelatina encontramos o sentimento perdido de poder reviver tantas coisas, sonhar com tantas outras e saber que futuro é o presente visto pelas costas.

segunda-feira, 2 de abril de 2007



Quero me dar amor através de você!
Meu egoísmo é haste da minha tríade vida.
Quero transformá-lo em egoísmo de dois, partilhar o amor próprio e dividir as tristezas só minhas.
Conhecer a ti somente para preencher o vazio próprio, que não sufoca, mas entedia pela falta do que é meu.
Quero te dar algo, meu valoroso e sincero amor, mas quero que venhas de volta para mim com o meu e o seu amor.
Perceber em ti o quanto belo sou, o quanto minhas palavras são bem escolhidas e a exatidão dos meus conceitos.
Arrancar do teu âmago as melhores gargalhadas e, assim, rir da minha própria satisfação.
Esquecer todos os dias ruins, as palavras não ditas e o tempo imaculado que se foi de malas vazias.
Quero a mim mesmo, melhor e regenerado, imortal e revigorado. E quando estiver diante do relógio da vida, desejar de pés juntos para que tenha ponteiros, pois assim poderei atrasar algumas tantas horas, e satisfezer-me de mais deleites pessoais e encantos efêmeros.
Quem dera minha loucura fosse somente minha, expurgo de tantas dores. Meu coração não passaria de mero vate enfeitiçador, mero viajande de desejos comuns. Mas estão por aí as dores que me fazem sofrem, habitantes de habitantes, tolhidas por poucos e propagadas em olhares amorosos.
Não é uma vida o que procuro.